Apesar dos benefícios da amamentação ser difundidos em campanhas desde os anos oitenta, o uso da mamadeira e o desmame precoce ainda são uma realidade. Do ponto de vista nutricional, o leite materno é o alimento mais completo. As vantagens imunológicas podem ser sintetizadas em uma única frase: … “cada mamada é uma vacina” (Guerra; 1999); destacando como são eficazes os fatores de proteção do leite humano. Seu sabor muda durante a evolução da lactação, ficando mais salgado e tendo em sua composição substâncias flavorizantes (que dão sabor e aroma) preparando o bebê para a alimentação do ambiente em que vive.
Sob o aspecto econômico, o leite materno é gratuito e diminui a morbidade infantil (adoecimento das crianças), sendo importante para a prevenção de doenças por carência vitamínica no primeiro ano de vida.
Pelos fatores relacionados à saúde e à economia, sua promoção é considerada estratégia de saúde pública, pois é gratuito, sendo estimulado por órgãos como a Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e Organização Mundial de Saúde (OMS).
Do ponto de vista Ortodôntico, o bebê para extrair o leite do seio materno tem que realizar movimentos complexos de ordenha, utilizando para isso, toda a musculatura da face, justamente as que vamos utilizar para mastigar posteriormente. Para que ela consiga realizar esses movimentos corretamente, o primeiro passo é que ela faça uma pega correta na mama. Nessa etapa, o seio materno (aréola e mamilo) distende-se cerca de três vezes o seu tamanho, acomodando corretamente por toda a boca da criança, ocorrendo assim um vedamento entre o seio, língua e lábio superior. Dessa forma a criança é obrigada a respirar pelo nariz, desenvolvendo a respiração nasal corretamente. Com a boca vedada ao seio, a criança faz os movimentos de abertura, protusão (levar pra frente), fechamento e retrusão (volta) da mandíbula voltando assim a sua posição inicial. O lábio superior, a mandíbula e a língua são trabalhados de maneira fisiológica e natural, ganhando força muscular (tônus). Estas ações, mais os movimentos de deglutição normal, ajudam a desenvolver a correta musculatura em torno da boca e da mandíbula, e o desenvolvimento da fala da criança. A flexibilidade e maciez do mamilo atuam moldando o céu da boca (palato duro) em resposta aos movimentos da língua que são como ondas para “retirar” leite (movimentos peristálticos), obtendo forma ampla de “U” dando espaço para o correto alinhamento dos dentes, o que diminui a incidência de má oclusão.
Na mamadeira, os movimentos são pobres, somente de abertura e fechamento da mandíbula. A sucção faz forte pressão nas bochechas, que pressionam as gengivas e dentes para dentro, afetando assim a posição dos dentes, predispondo a mordida cruzada posterior e aberta anterior. Quando o céu da boca (palato) é empurrado para cima pela mamadeira, o assoalho da cavidade nasal também se eleva, diminuindo o espaço nasal total. A criança aprende a respirar pela boca. É comum nesses casos encontrar arcadas em forma de “V” , estreitas, com palato alto, associada com mau alinhamento e falta de espaço para os dentes. A língua age como um pistão para controlar o fluxo de leite, o que a deixa sem tônus muscular, podendo predispor deglutição atípica, alterações na fala e em casos severos, levando à apnéia obstrutiva do sono (parada temporária da respiração, geralmente associada com o ronco).
A forma com que a criança mama ao seio materno estimula o desenvolvimento da face obriga a criança a respirar pelo nariz e promove uma maior tonicidade da musculatura peribucal. Assim, ela estará preparada para mastigar posteriormente, e terá aproveitado ao máximo o maior pico de crescimento da criança que é de zero a três anos de idade.
Apesar de todas essas vantagens, poucas são as crianças que são amamentadas, e essas na maioria o recebem por curto espaço de tempo. Mesmo o fato da mulher hoje gerar renda dentro da casa, e muitas vezes ter que deixar seu bebê para trabalhar, por incrível que pareça, esse não é o fator determinante. Pesquisas mostram que o tempo de aleitamento materno está mais relacionado com o grau de instrução da mãe, ou seja, mães com grau de instrução maior amamentam mais e por mais tempo. Mitos como: …“o leite humano é fraco e que não sustenta” ou mesmo de que …”o peito vai ficar feio e que vai “cair” são culturalmente fortes e atingem principalmente a população menos instruída.
Desde a infância somos atingidos por uma cultura que não favorece o aleitamento materno. Entretanto, essa é a época que experimentamos o que seremos quando adultos. Mas, os jogos eletrônicos que simulam a “vida real” (ex. jogos da Barbie, The Sims, etc) nos ensinam que para cuidar de um bebê (virtualmente) temos que dar a mamadeira e/ou chupeta. As grandes indústrias de brinquedos trazem lindas bonecas que fazem cesarianas e que vem com mamadeiras e bicos, tais como acessórios. Se repararmos bem, elas trazem também as deformações faciais estampadas sua face, pois ficam com a boca aberta (deformidades ósseas) com olheiras (característica de quem respira pela boca – Síndrome do Respirador Bucal). Mesmo assim, compramos porque achamos inconscientemente que é o certo, crescemos assim envoltos pela mídia do “ desmame precoce”, aprendendo erradamente com o lúdico. Se alguma menina quiser alimentar sua boneca ao seio, levantando a blusinha, ou fazer na boneca um parto normal, nos assustamos. Ficamos com medo de estar estimulando sua sexualidade. O que nos leva a refletir o quanto estamos equivocados, perdendo a referência do que é normal, ou melhor, natural.
Diante das inúmeras vantagens que o aleitamento natural proporciona, é nossa obrigação mudar essa cultura. Temos que começar por nós, pois queremos que nossas crianças deem o melhor para seus filhos. Por isso quero lembrá-los que somos mamíferos!